terça-feira, 29 de novembro de 2016

OS TRÊS NÍVEIS DO TEMOR

O que significa ‘Temor’ a Deus?
Significa que devemos ter medo da desaprovação de Deus sobre nós? 
Deveremos viver no medo sobre uma perspectiva de um futuro julgamento pelos nossos pecados?


O Temor ao Senhor – Yirat Hashem

O que significa ‘Temor’ a Deus?
Significa que devemos ter medo da desaprovação de Deus sobre nós? 
Deveremos viver no medo sobre uma perspectiva de um futuro julgamento pelos nossos pecados?

A fim de considerar algumas destas questões, vamos considerar um versículo da Torá:
"Agora, pois, ó Israel, que é que Adonay requer de ti? Não é que temas a Adonay, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas a Adonay, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma?" Deuteronômio 10:12

Nesta declaração sumária do que D-us exige de nós, o Temor do Senhor – Yirat HaShem: é mencionado em primeiro lugar.
Em primeiro lugar temos de aprender a temer corretamente ao Senhor, e só então poderemos ser capazes de andar em Seus caminhos, para amá-lo, e para servi-lo com todo nosso coração e alma. Mais uma vez, o requisito de temer a Adonay teu Deus é colocado em primeiro na lista…

Na verdade, ‘o temor do Senhor’ é dito ser o início da sabedoria; todos os que cumprem os seus preceitos revelam bom senso. Ele será parabenizado para sempre! (Salmo 111:10; Provérbios 19:23) As escrituras claramente declararam que; o Temor a Deus leva a vida’ – ‘O temor do Senhor conduz à vida; e mal nenhum o visitará’.
A palavra hebraica Yirat traduzida em muitas versões da Bíblia é Temor, mas a palavra Yirat tem um alcance de significado muito maior nas Escrituras Sagradas. Às vezes refere-se ao medo que nós sentimos em antecipação de algum perigo ou de sofrimento, mas também pode indicar admiração ou reverência. Neste último sentido, a palavra Yirat inclui a idéia de maravilha, espanto, mistério, admiração, gratidão, e ate mesmo adoração (igual a um sentimento que começa quando nós admiramos algo maravilhoso).

Então ‘O Temor a Deus’, portanto, inclui uma esmagadora sensação de glória, dignidade, e a beleza do único verdadeiro Deus.

Alguns dos Sábios Rabinos da antiguidade ligaram a palavra Yirat com a palavra ‘Ver’ – quando nós realmente ‘vemos’ a vida como ela é, nós seremos preenchidos com a admiração e temor sobre a glória de tudo isso. Cada sarça será iluminada com a presença de Deus e o solo onde caminhamos, de repente, será visto como sendo Santo (Êxodo 3:2-5). Nada vai parecer comum, ou trivial ou insignificante. Neste sentido, ‘temor e tremor’ diante a Deus é uma descrição da consciência interna da santidade da vida em si (Salmo 2:11, Filipenses 2:12).

O Rabino Abraham Heschel (1907-1972 EUA) escreveu; ‘Temor é uma intuição para a dignidade de todas as coisas, uma percepção de que as coisas não só são o que são, mas também têm, no entanto remotamente, algo supremo. Temor é um sentido para a transcendência, para o mistério para além de todas as coisas. Isso nos permite perceber no universo as insinuações do Divino, ao sentir a grandeza no comum e no simples: sentir-se na agitação da passagem da quietude do que é eterno. O que nós não podemos compreender por análise, nós nos tornamos conscientes de temor’ (Heschel: God in Search of Man).
Ele continuou escrevendo, ‘O temor de Deus é o início da sabedoria’ (Salmo 111:10) e observa que tal temor não é o objetivo da sabedoria, mas seu meio. Começamos com temor que nos leva à sabedoria.


Segundo a sabedoria judaica, existem três “níveis” ou tipos de Yirat (Temor).

O 1º nível

É o medo das consequências desagradáveis ou do castigo; chamado Yirat ha’onesh: Este, talvez seja como nós normalmente pensamos sobre a palavra ‘medo’. Antecipamos algum tipo de sofrimento e queremos fugir dele. Mas lembre-se de que esse medo também pode vir daquilo que você acredita que os outros podem vir a pensar sobre você. As pessoas muitas vezes fazem coisas (ou não fazem) a fim de obter aceitação dentro de um grupo (ou para evitar a rejeição). As normas sociais são seguidas para evitar que seja condenado ao ostracismo ou a rejeição.

O 2º tipo de medo

É concernente com a ansiedade provocada por quebrar a lei de Deus, às vezes chamado de Yirat HaMalchut: este tipo de medo motiva as pessoas a fazerem boas ações, porque elas têm medo que Deus irá puni-las nesta vida (ou no mundo por vir). Este é o conceito básico do ciclo moral da causa e do efeito. Como tal, este tipo de medo é fundado na auto-preservação, embora em alguns casos o motivo possa ser misturado com um desejo genuíno de honrar a Deus ou para evitar o juízo de Deus por causa dos pecados cometidos (Mateus 10:28; Lucas 12:5).
No Mandamento (Mitzvá) de não falar maledicências aos surdos ou colocar um tropeços no caminho dos cegos, por exemplo, a Tora acrescenta, ‘você deve temer Adonay seu D-us’ (Levitico 19:14).

Deus não tolera o mal ou a injustiça, e os que praticam a maldade e a injustiça tem uma verdadeira razão para ter medo (Gálatas 6:7-8). Deus provará a qualidade das obras de cada um. (1º Coríntios 3:13). Pois todos nós devemos comparecer perante o tribunal, para que recebamos de acordo com as nossas obras, quer sejam obras boas, quer sejam más. (2º Coríntios 5:10).

O 3º (e valioso) tipo de medo

É uma profunda reverência à vida que vem justamente da maneira de ver a realidade. Este nível discerne a Presença de Deus em todas as coisas e é às vezes chamado Yirat HaRomemnut, ou ‘Temor do Exaltado’.
Através dele podemos contemplar glória e Majestade de Deus em todas as coisas.
‘Temer’ e ‘como Ver’ estão ligados e Unidos. Nós somos elevados para o nível de sensibilização reverente, Santo afeto, e verdadeira comunhão com o Espírito Santo de Deus. O repudio a maldade e a injustiça é uma maneira de Temor a Deus (Provérbios 8:13 João 3:20-21).

Voltando à nossa pergunta. 

O que significa a palavra Yirat – Temor em Deuteronômio 10:12? 
Devemos considerar como medo ou temor? 
Nós devemos temer a Deus através de uma sensação de que estaremos sendo ameaçado por ELE por causa dos nossos pecados e transgressões, ou devemos considerar-lo no temor na reverência por causa da Sua magnitude?
Esta pergunta é vital, desde como respondemos afetará como caminharemos nos caminhos de Deus, se vamos amá-lo, e como vamos servir-lo, se, com todo o nosso coração e alma ou não (Deuteronômio 10:12).

O Chofetz Chaim (Rabbi Israel Meir 1838-1933) ensinava que mesmo que o medo da punição de Deus possa dissuadir do pecado em curto prazo, mas por si só é insuficiente para manter uma vida nos caminhos de Deus, uma vez que este medo é baseado em uma idéia incompleta sobre Deus. Este medo Vê Deus em termos dos atributos da Justiça, mas esquece-se de Deus como o Salvador, misericordioso e cheio de graça.
Se nós estivermos evitando os pecados só porque nós temos medo da Punição de Deus, e como se nós limpássemos o ‘exterior do copo’ enquanto o interior ainda está cheio de corrupção e podridão…
Ou nós podemos tentar encontrar raciocínios para desculpar-nos da ‘responsabilidade legal’. Nós podemos parecer exteriormente religiosos, “espirituais”, bons, obedientes, ‘observantes da Torá’… , mas interiormente nós podemos estar em um estado de alienação e rebelião. ‘ o Coração é enganoso acima de todas as coisas…’

O Messias nos ensinou que precisamos de um renascimento “espiritual” para ver o Reino de Deus (João 3:3). Este é o novo princípio de vida de Deus (ou seja, Chayim chodashim  que opera a ‘lei do espírito da vida’ (Romanos 8:2, 7:23).

Deus ama seus filhos com Ahavat Olam – Amor eterno, e nos seduz em Chesed, ou seja, na Sua Graça. (Jeremias 31:3). Note que a palavra traduzida ‘te atrai’ vem do Hebraico mashach que significa “agarrar” ou “arrastar para perto” (a palavra grega usa o verbo helko para expressar a mesma idéia). Como Yeshua disse; ‘ninguém é capaz de vir a mim, a menos que ele seja ‘arrastado ate a mim’ pelo Pai (João 6:44).
A Chesed – Graça de Deus nos seduz, e nos leva cativo ate o Salvador Messias… ‘o “Renascimento espiritual” é um ato divino da criação, ‘não genético, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem (reencarnação), mas da vontade de Deus’ (João 1:13). Deus sempre é proeminente.

O Rabino Hanina (Talmud) ensinava: ‘tudo está nas mãos dos Céus exceto o Temor do Senhor, porque se diz, ‘E agora, Israel, o que o Senhor teu Deus quer de ti; é que temas ao Senhor teu Deus’ (Talmud Berachot 33b).

É uma luta para ver e pensar com clareza. Muitos de nós nos tornamos tão amargurados e cansados por causa das nossas preocupações cotidianas que nós mal podemos abrir os nossos olhos para contemplar a glória em torno de nós.
Nós temos andado “dormindo”, bocejando pelo nosso caminho através da ‘glória cósmica’ que nos rodeia.
Nós devemos cultivar o temor em nossos corações conscientemente lembrando a Presença e a salvação de Deus.

Como disse o Rei Davi: Shiviti Adonay le’negedi tamid – Coloco Adonay sempre diante de mim. Estando Ele à minha direita, não serei abalado (Salmo 16:8)
Alguns dos Sábios Rabinos da antiguidade interpretam que este versículo significa que nós devemos Imaginar a Presença de Shechiná em frente de nós em todos os momentos da nossa vida.
Na Tradição judaica, Há um tipo de arte (pintura ou desenho em quadro) meditativa chamada ‘Shivitis’ que foram concebidos para nos lembrar que estamos sempre na Presença de Deus. Muitas vezes estes quadros são colocados na parede leste de uma Sinagoga.

Os ‘Shivitis’ são interpretações artísticas da instrução, ‘saiba diante de quem você está’- em Hebraico:Da lif’nei mi Atá omed. Que geralmente ficam escritos acima do ‘Aaron Kodesh’ (o armário no qual a Torá e guardada).
Às vezes os ‘Shivitis’ também são ‘cantados’, como uma ‘meditação falada’. Essas ‘técnicas’ são destinadas a instilar em nós a sensação de que a glória de D-us preenche todo o Universo e que devemos nossas vidas a ELE. Uma vez que cada pessoa é criada a ‘b‘tzelem Elohim’ (na imagem de D-us).

O filosofo judeu Martin Buber (1875 -1965 Áustria) considerava que cada pessoa que está diante de nós como um ‘shiviti’ – um lembrete da Presença de Deus. (porque são criadas a imagem de Deus). Martin Buber dizia; ‘Deus está nos relacionamentos’


No Talmud os sábios ensinavam; ‘Para quem reverencia a Deus, todo o mundo foi criado por causa dessa pessoa. Essa pessoa é igual em valor para todo o mundo’ (Talmud Berachot 6b).
Isso pode ser uma hipérbole, mas isso me lembra o conto ‘Chassidico’ que diz que; ‘cada pessoa deve andar na vida com duas notas, cada uma em um bolso. Em uma nota deve ser as palavras: ‘bishvili nivra ha’olam’ –“por minha causa foi este universo criado” e em outra nota as palavras: ‘anochi afar ve‘efer’- ‘Eu sou pó e cinza’.

Da mesma forma, é evidente que ambos, os sentidos Yirat – Temor são chamados para dentro de nossos corações. Temos temor do Senhor nosso juiz e ainda estar em Temor do custo da sua redenção. Devemos temer constantemente O Pecado. Devemos “ter medo” de tropeçar e desonrar a Deus com a nossa vida. Nós devemos ser vigilantes, alertas, acordados, conscientes e atentos a Presença de Adonay em todas as coisas.

‘Saber diante de quem você está’ – Da lif’nei mi atah omed. É Uma reverente e focada atitude que significa ‘praticando a presença de Deus’ em nossa vida quotidiana.
Toda a terra está repleta de sua glória, se tivermos o olho da fé para ver (Isaias 6:3). Estamos rodeados por Deus e Sua amorosa presença e nada pode nos separar do seu amor, demonstrado através do Messias (Romanos 8:38-39). Todo o Universo está dentro de D-us; ‘Adonay, tu tens sido a nossa Maon(habitação), de geração em geração’ (Salmo 90:1). ‘Em D-us nós vivemos e movemos e existimos’ (Atos 17:28).
Deus nunca vai nos deixar nem nos abandonar (Hebreus 13:5). ELE disse; Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu D-us; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a minha destra da justiça. (O Messias) Isaias 41:10.

Nós geralmente fazemos uma distinção entre ‘fé’ e ‘temor’, mas esta distinção precisa ser de alguma forma qualificada. Às vezes, o ‘temor’ implica a ausência de ‘fé’, e a nós é ordenado a banir tais medos de nossos corações: ‘Al Tirá – Não temas, porque eu sou com você’ (Isaias 41:10). Mas quando nos aproximamos D-us, nós devemos estar sempre em ‘temor’, mostrando reverência e humildade. Nossa fé no amor de Deus nunca deve remover admiração e reverência de nossos corações.

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